Castelo de Vide pertence ao distrito de Portalegre no Alentejo, o carácter romântico da vila, associado aos seus jardins, abundância de vegetação, clima ameno e proximidade da serra de São Mamede, tornou-a conhecida por "Sintra do Alentejo" (esta designação é atribuída ao rei D. Pedro V).
Ao chegarmos a Castelo de Vide, somos surpreendidos pelo castelo rodeado de casario branco que se destaca na paisagem. Mas a maior surpresa maior está dentro da vila, onde encontramos uma das mais bem preservadas judiarias de Portugal.
Deixamo-nos facilmente encantar pelo charme do cenário medieval. Visitamos a antiga sinagoga, atualmente um museu, e passeamos pelo labirinto ruas, onde aprendemos a ver a presença judaica nos nomes das ruas e os sinais do culto de gerações hebraicas nas portas de granito. A rua das Espinosas, por exemplo, remete para o célebre filósofo do séc. XVII, Spinoza, filho de um habitante de Castelo de Vide.
Depois de subir ao Castelo, voltamos ao centro onde entramos na Igreja Matriz de Santa Maria. Aqui têm lugar uma parte das cerimónias pascais onde se misturam as duas crenças, cristã e judaica. Resta ainda tempo para apreciar a água fresca nas fontes que encontrar pelo caminho, muito conhecida pelas suas propriedades termais.
MEDIEVAL
Séc.s XIV e XV
Castelo de Vide apresenta um dos mais importantes e interessantes conjuntos de portas ogivais actualmente existentes no País. Datando dos séc.s XIV e XV o seu número total é de sessenta e três. Essas portas encontram-se em muitas das ruas, principalmente na parte mais antiga do Centro Histórico, com grande aglomeração na Judiaria e Rua de Santa Maria de Cima. Se algumas são simples portas ogivais, sem qualquer decoração, muitas apresentam-se decoradas tanto ao nível das ogivas, como das impostas e ombreiras.
Como elementos decorativos são empregues as esferas, toros e caneluras, conjuntamente com arestas vivas e motivos vegetais. O peixe aparece numa única porta do séc. XVI (Rua Nova), mas também há estilizações do Sol e das estrelas (Penedo).
Leis decretadas por alguns monarcas lusitanos no sentido de se criarem "Ghettos" próprios, onde só vivessem judeus, levou ao aparecimento de bairros, igualmente conhecidos pelo nome de "Judiarias".
Foi no séc XIV, que D. Pedro I aforava a Mestre Lourenço seu físico, provalmente judeu, uma terra em Castelo de Vide, sendo vários os documentos datados do século XV que testemunham a existência da comunidade judaica da vila.
Em Castelo de Vide a Judiaria desenvolveu-se na encosta da vila virada a nascente. Ainda que estabelecido numa das zonas mais acidentadas, o bairro era atravessado por um eixo fundamental de comunicação do castelo com o exterior e vice-versa. Da presença judaica em Castelo de Vide restam alguns testemunhos materiais em que assume especial relevância o edifício onde se julga ter funcionado a Sinagoga Medieval. Outros edifícios da Rua da Judiaria, da Rua da Fonte ou da Ruinha da Judiaria mostram ainda o que resta da tradição milenar judaica de marcar a sua fé nas ombreiras das portas.
O estabelecimento da Inquisição e a publicação do Édito de Expulsão dos judeus dos reinos de Espanha por Fernando e Isabel, os reis católicos, contribuíram para o crescimento da judiaria de Castelo de Vide que mantém na toponímia das suas ruas o testemunho da presença judaica, mas também o da perseguição do Santo Ofício aos cristão-novos.
Sinagoga
De quando a data da sua fundação, não se sabe ao certo, no entanto, já no séc. XIV existia uma judiaria em Castelo de Vide, que era constituída por um conjunto de casas construídas junto à porta principal do castelo.
A Sinagoga está situada na Rua da Judiaria / Rua da Fonte, o edifício orienta-se no sentido Este / Oeste.
Todo o conjunto é constituído por um só volume, com dois pisos.
Vulgarmente chamada "Sinagoga", mas com o nome apropriado de "BEIT-HA - MIDRASCH-SEFARDIN". No compartimento destinado ao culto, no seu interior, tem instalado o tabernáculo, com as respectivas cavidades destinadas às lamparinas dos "Santos Óleos" e ao lado direito desta peça, uma apoiaria as sagradas escrituras, em que na base estão implantadas sete bolas indicadoras dos seis dias em que Deus criou o mundo e do último dia, o sétimo, descanso da obra. No séc. XVIII sofreu obras de adaptação para residência. Foi reconstruída respeitando a traça primitiva em 1972.
Uma porta de acesso ao primeiro piso apresenta uma pequena concavidade que se chama a marca da MEZUZAH, palavra hebraica que significa "ombreira da porta". Esta concavidade destinava-se a guardar um estojo que continha um pequeno pergaminho em que se escreviam algumas das palavras do SHEMA, oração fundamental do culto judaico.
Todos as portas são em ogiva que arranca de impostas com arestas vivas, toros e caneluras.
Fonte da Vila
Classificado como IIP (Imóvel de Interesse Público) desde 1953, é o Ex-Líbris da Vila, constitui um monumento que se destaca entre outros, não só pelo seu valor artístico, como pelo conjunto arquitectónico e urbanístico em que está inserida. Situa-se em pleno Largo Dr. Frederico Laranjo.
Analisando-se a planta de delimitação do bairro judeu de Castelo de Vide, pode concluir-se que a fonte estava integrada no mesmo. Este existiu desde o séc. XIV ao séc. XV. A fonte foi um foco de desenvolvimento radial de ruas que se desenvolveram à sua volta, deduzindo-se que terá sido construída no séc. XVI, no reinado de D. João III, embora também seja provável que a sua construção seja de várias épocas, em que no início terá existido apenas uma nascente, inicialmente transformada numa pequena fonte de água potável, que no séc. XVI foi mandada construir.
A forma do tanque principal é rectangular e delimitado por lajes graníticas dispostas na vertical do qual saem seis colunas de mármore que sustentam uma cobertura piramidal que remata em pinha. Ao centro do tanque ergue-se um corpo discóide com quatro bicas simétricas e sobre este, um outro paralelepípedo, decorado com as Armas de Portugal, as do Concelho e com duas figuras de meninos. Este conjunto é rematado por uma pinha em forma de flor de acanto ou tulipa.
Ao lado possui um outro tanque, rectangular, destinado a animais bestas e cavalares.
Fica a uma hora de Estremoz (para sul pela IP2) e de Elvas (para sul pela N246). Perto tem Marvão, a de 10 km (20 minutos pela N246-1). Chegando de autocarro (direto de Portalegre e Lisboa) fica no centro pela torre do relógio da Câmara Municipal, na Rua Bartolomeu Álvares da Santa.
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