terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Sabe porque se comemora o Carnaval?


As origens e as tradições do Carnaval em Portugal

A festa de Carnaval chegou ao nosso país nos séculos XV e XVI, recebendo o nome de Entrudo, isto é – introdução à Quaresma. O Carnaval português, que foi exportado para as antigas colónias, em especial para o Brasil (por volta de 1723), sempre teve características diferentes do de outros países da Europa, sendo reconhecido até mesmo por autores portugueses como uma festa marcada por brincadeiras violentas e pesadas.

As ruas enchiam-se de pessoas que encenavam verdadeiras lutas, em que as armas eram ovos crus ou as suas cascas cheias de farinha ou gesso, cartuchos de pós de goma, cabaças de cera com água de cheiro, tremoços, laranjas, tangerinas, pastéis de nata e outros bolos, tubos de vidro ou de cartão para soprar com violência, areia e cinza para jogar em quem passava. Como se tudo isto não bastasse, havia ainda lugares onde a tradição mandava atirar da janela potes, tachos de barro e alguidares sem serventia, com o intuito de acabar com tudo o que de velho existia em casa. Quem nunca foi atingido por um sacoovo, um tomate ou um saco de farinha e até por um balão cheio de água? Não raras vezes se ouve o relato de pessoas que passando perto de habitações, por muito pouco não foi atingido por um tacho velho, um alguidar ou outro qualquer objeto já sem serventia. As lutas de vassouras também já foram frequentes. A desculpa é sempre a mesma e tem séculos: «É Carnaval, ninguém leva a mal!»


Nos finais do séc. XIX, as cidades de Lisboa e Porto quiseram pôr um freio nos excessos cometidos pelos foliões carnavalescos. Assim, começaram a ser organizados bailes de máscaras em clubes socialmente bem frequentados. Foi também nesta época que surgiram, em Lisboa, os «batalhões» populares da Ajuda, Alfama e Campo de Ourique, as batalhas de flores (que se mantêm na tradição do Carnaval de Loulé), de carros ornamentados e o «Carnaval do Porto», com direito a cortejo de carros alegóricos e aparatosa cavalgada.


Apesar de algumas localidades portuguesas apresentarem uma radição carnavalesca mais viva do que outras, a verdade é que não há cidade, vila ou aldeia em Portugal que não festeje o Carnaval, com mais ou menos entusiasmo e alegria. A festa é uma constante, variando apenas as formas de manifestação. Enraizadas no folclore português estão as máscaras com as quais qualquer transformação é possível. A sua origem encontra-se nos antigos rituais pagãos do culto dos mortos em que se acreditava que os espíritos deviam tomar a forma humana. Para a sua personificação, alguém trajava de branco e usava uma máscara.
Atualmente, existe uma grande tradição carnavalesca, nomeadamente o Carnaval da cidade de Ovar, o de Loulé, o da Ilha da Madeira, o da Mealhada eo de Torres Vedras. De todos, destacam-se dois: o da Mealhada, que é visto como a festividade luso-brasileira por excelência, onde o samba, os carros alegóricos, as roupas e até os reis (normalmente artistas brasileiros) inspiram-se no Carnaval mais conhecido do Mundo - o do Rio de Janeiro e o de Torres Vedras, por possuir o Carnaval mais antigo e dito o mais português de Portugal, que se mantém popular e fiel à tradição rejeitando o samba e outros estrangeirismos.


Na cidade de Torres Vedras os festejos carnavalescos assentam o seu sucesso numa festa permanente durante toda a época do entrudo, ou seja, desde sábado gordo, até quarta-feira de cinzas, com o seu ponto alto nos corsos de domingo e terça-feira. Terça-feira é o dia principal do período carnavalesco e, apesar de em Portugal não ser feriado, os serviços públicos e escolas fecham em todo o país. Os reis do Carnaval de Torres são sempre pessoas conhecidas da terra. Normalmente, todos os anos, os corsos são abrilhantados por 13 carros alegóricos de grandes dimensões e muitos grupos de foliões fantasiados, cabeçudos ou gigantones, que se fazem anteceder dos zé-pereiras, munidos de bombos e gaitas de foles. A sátira social e política continua a ser o instrumento privilegiado dos foliões, mas, seja qual for o meio, o fim é comum: divertimento em grande. Mas como tudo o que é bom acaba depressa, a cerimónia do Enterro do Entrudo marca o fim de um ciclo numa ação onde se julga e executa o Rei do Carnaval, num espectáculo de pura sátira.

 





Texto:Ana Flor do Lácio


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